O que é Fado? Será apenas um estilo de música?

Fado no Porto

O que é FADO? Será apenas um estilo de música? Ou haverá algo mais do que aquilo que ouvimos?

Poderão já ter ouvido falar de Fado, apenas como estilo de música, mas é muito mais do que isso.

Como diz o poema “Tudo isto é Fado”, da autoria de Aníbal Nazaré, criação de Fernanda Batista, mas popularizado por Amália Rodrigues:

Fado Corrido com Amalia Rodrigues - Lisboa1964

“Tudo isto existe, 

tudo isto é triste

tudo isto é Fado”

Aníbal Nazaré

Fado é tudo o que existe. Fado é vida e tudo o que nela cabe.

Os fadistas (homens e mulheres que cantam Fado) olham para a vida com o coração e não com a razão.

Há um sentimento mais obscuro, melancólico no olhar de um Fadista. Há uma vontade de eternizar a sua dor, não com o sentimento de pena mas valorizando-a e acolhendo-a como parte de tudo o que existe. 

Não existe Fado sem Vida, nem Vida sem Fado. Está tudo intrinsecamente ligado e permanecerá assim na Eternidade.

Há uma tristeza latente no Fado, mas que usada como recurso para chegar ao Etéreo. Amália Rodrigues fê-lo de uma maneira sublime e inatingível. Elevou o Fado a um patamar nunca antes alcançado. Dignificou o Fado de uma maneira que muitos consideraram impossível e até inadequado. Isto porque, Fado sendo uma música do Povo não tem as regras e a beleza de um Canto Clássico, não tem a magnitude de uma Ópera. Mas tem a sensibilidade da humanidade, tem a certeza de que pertencendo ao povo, não poderá cantar mais nada a não ser a verdade.

E é neste lugar que reside a maior característica do Fado, a Verdade.

Como poderemos cantar algo, tão trágico, se não o incorporar-nos na nossa pele?

Fado não é representar, também não é fingir. Fado é incorporar o lado mais triste e mundano da Vida e dar-lhe voz. 

Ninguém quer dar de caras com a sua dor. Mas será que existe evolução sem dor? E porque renegamos a nossa dor? Porque dói! 

Então o Fadista usa a dor para construir algo Belo. Usa a dor para chegar à dor do outro e abraça-lo, acarinhá-lo e compreendê-lo. 

O Fadista faz um ato de amor quando canta a sua dor. Despe-se de todo o tipo de preconceitos e entrega-se à maldição de constantemente viver a Vida como ela verdadeiramente é.

O Fado é de uma simplicidade atroz e muito provavelmente é isso que nos atrai e ao mesmo tempo afasta. Queremos vivenciar novamente aquela dor? Não queremos! Mas precisamos para evoluir. Precisamos urgentemente de abraçar as nossas dor, dignificá-las e usá-las para o nosso crescimento. 

O Fado não quer de mais nada, a não ser o seu sentimento. Por isso, sempre que um Fadista canta, é como se uma reza estivesse a nascer naquele preciso momento. Cada reza é a elevação do seu espírito, é o pedido de clemência pela sua insignificância. É um pedido de ajuda inconscientemente cantado. 

Por isso dizes que o Fado acontece. E acontece no momento em que a trindade Fadista constituída pelo Fadista, o Guitarrista e o Viola de Fado estão intimamente ligados e alcançam o patamar de serem um só. 

Isto acontece inconscientemente de uma maneira extremamente inesperada. É assim que deve ser. 

Portanto, é na simplicidade, na entrega e na crueldade dos sentimentos que iremos encontrar o Fado. 

Não esperem fogo de artifício ou grandes espetáculos cheios de luzes. 

O Fado pertence à escuridão e só dessa maneira poderemos admitir o que nos tormenta. 

O Fado é vivido numa profunda ausência de luz, mas guiando-nos para a nossa salvação.

O Fado só procura um meio de se materializar através de quem lhe empresta o corpo.

Vivamos o Fado como ele é, e não como querem crer!

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Novidade

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